terça-feira, julho 11, 2006

domingo, julho 02, 2006

Copa do Mundo: fonte de decepções?

Impressionante como a decepção perde a graça, deixa de fazer sentido. Dói menos, com o tempo não altera mais a pulsação, desmancha no ar.
A seleção brasileira, com os melhores e mais bem pagos jogadores do mundo, não jogou. Mas a febre da insustentável leveza da vontade de ser feliz pesou nas nossas veias por quatro jogos.
Medíocre, um time que de poderoso só tinha o temido traje amarelo, levou a gente a acreditar no poder dos deuses. Ainda que soubéssemos que não há deus que dê jeito na negligência de um Ronaldo, fenômeno na capacidade de decepcionar brasileiros e surpreender, cada vez menos, espanhóis. Sabemos, ainda que dados a ilusões, que não há deus que deite coragem a covardes como Parreira, que recusa oportunidade à alegria do novo, representada por um menino Robinho, por intransigência ou teimosia burra.
Pena que não há como acalentar nossos filhos e netos, as mais vulneráveis vítimas da decepção, lembrando de um João Saldanha, que enfrentou o general Médici, perdeu o cargo de técnico por não escalar Dario e entregou a Zagalo o melhor time de futebol daquele e de muitos subseqüentes anos. Zagalo, que em 1970 já era velho e, adequado àqueles tempos, arrogante, claro, convocou Dario para o sorriso do ditador que comemorou o Tri sobre 90 milhões em ação entre o circo e a opressão. Dario não saiu do banco. Zagalo nunca deu crédito a Saldanha. O Brasil comemorou e depois anoiteceu.
Não vou entrar em detalhes nostálgicos porque morro de medo de memórias.
O importante é que as decepções deixam de assustar. Não que a gente conte com elas. Mas quando vêm em direção a peitos um pouco mais maduros, a vontade de chorar é menor.
Já a alegria não, é uma surpresa de infantilidade vitalícia. Se o Brasil conquistasse o hexa, todos sairíamos às ruas com a sensação de criança que acabou de abrir um presente de Natal. E nunca mais esqueceríamos.
Não deu pra todo mundo, mas alguns privilegiados vão ter motivos eternos para comemorar: jovens que extraíram dessa Copa uma paixão. Casais que se conheceram em algum bar, durante um dos jogos e que vão viver um amor, quem sabe uma história, ter filhos e um dia dizer a eles que a decepção é um sentimento efêmero, uma dor passageira que pode até marcar. Mas nunca como o sorriso de um primeiro olhar que sai da alma, se transforma em brilho e se instala para sempre no coração. Sensação só comparada à libertação de um sonoro, ardente e indefectível grito de gol.