quarta-feira, outubro 05, 2005

Quando a luz dos olhos teus resolve me matar.

Poucas formas de expressão têm tanto poder quanto o olhar. Seduz, adverte, duvida, acredita, diz que ama, diz que odeia, diz que é infantil, que é maduro, delicado, astuto e até fuzila. Provoca dores incomensuráveis quando definitivamente se apaga. Eufóricas alegrias quando pela primeira vez se acende. E não há nada mais silencioso, completamente desprovido de sons, e ao mesmo tempo tão escandaloso, carregado de verbos, quanto o olhar. Contudo, não há notícia de óbito provocado pela versátil janela da alma. Imagino o furo de reportagem: “Engenheiro assaltado e morto por olhar fulminante”. A insólita manchete faria a festa da redação e, claro, do departamento financeiro de qualquer jornal. Mas, há aqueles olhares com pouca luz por tristeza, excesso de trabalho ou até mesmo por farra na noite anterior. Para estes há um recurso, o colírio. O que poucos sabem é que o eficaz remédio para os olhos pode ser fatal ao coração. No início da semana o jornal mexicano El Universal noticiou a prisão de seis prostitutas na Cidade do México acusadas pela morte de cinco dos seus clientes. A arma do crime? Um inofensivo colírio. As meninas descobriram que as gotas utilizadas por oftalmologistas para dilatar as pupilas dos pacientes provocam incontrolável sonolência quando ingeridas com álcool. Assim, aproveitando o deslumbramento dos incautos, pingavam o medicamento na bebida, esperavam a transformação do seduzido em Cinderela, e roubavam até as cuecas. Porém, elas não contavam que a tal mistura pudesse levar à morte pessoas com problemas cardíacos. E o curioso é como tudo foi descoberto. Um sobrevivente ao golpe contou à polícia que vigiou seu uísque o tempo todo. Mas não percebeu que a garota, na impossibilidade de acesso ao copo, pingou o medicamento nas pontas dos seios. Quando acordou se sentia dopado, de ressaca e muitos pesos e dólares mais pobre.
De fato vivemos tempos complicados. Se não bastassem a Aids, a Hepatite C e outras DSTs, agora temos o colírio assassino. Imaginem se este desavisado não se sentisse atraído por tão sedutores atributos femininos. Onde a mulher pingaria as gotinhas? Deixo as possibilidades por conta da preferência de cada um. E quanto às prostitutas mexicanas, melhor continuar utilizando as janelas da alma. Só comer com os olhos.